Relato de Parto Natural Prematuro (2017)

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Relato de Parto Natural Prematuro (2017)

Henrique chegou ao mundo 1 mês antes do que esperávamos. A data prevista estava para 23/12/17 e imaginávamos desde então que passariamos a ceia internados e ele só ganharia um presente no Natal.

Que bom que ele pôde escolher o dia que chegaria. Esse foi meu primeiro desejo para ele em sua chegada e motivo pelo qual troquei de obstetra (e porque meu tamanho - 1.54, e o tamanho dele - percentil 98, eram incômodos para ela, além da preocupação [dela] da proximidade com o natal). Era importante demais pra mim que ele escolhesse seu dia, que viesse quando estivesse pronto, quando entrasse em trabalho de parto. E estava pronto com 36 semanas e 1 dia.

O segundo desejo para recebê-lo era que fosse num ambiente calmo, respeitoso, que ninguém o apressasse. Daí entramos na busca por uma equipe humanizada que combinasse com os meus valores e com tudo o que acredito, tanto por conhecimento por ser psicologa perinatal, quanto por empatia e feelling. Com 26 semanas iniciei o pré-natal com a Dra Fernanda Eyer, da equipe Parto sem Medo, acolhedora e serena, falando da medicina baseada em evidências quando eu mostrava dúvidas. Conclui que queria a equipe dela de qualquer jeito.

Agendei para conhecer obstetriz e doula com 36 semanas para combinarmos o momento do parto de forma sintonizada. Assim como iniciaria fisioterapia para preparação do períneo naquela semana. Mas honrando meu desejo a ele, Henrique deu seu primeiro sinal as 3h30 da manhã de domingo para segunda (20/11), quando senti a bolsa estourar. Fiquei na dúvida se realmente era a bolsa porque calcinha molhada eu tinha todo dia, porém em meia hora começaram cólicas que depois percebi serem as primeiras contrações.

Tento voltar a dormir mas só vem a cabeça: preciso terminar o quarto dele e fazer a mala de maternidade (tarefas também programadas para a 36 semana). Levantei, tomei banho, acordei o marido e liguei para minha mãe - avó, babá e pediatra do Henrique, que falou na hora que contei da "cólica" vinda de 20 em 20 minutos: vamos para o hospital!
Nada pronto, arrumamos rapidamente a mala de maternidade e avisei a minha equipe que concordou com a ida ao hospital e que me encontrariam lá. No caminho, de carro, já estava com contrações de 5 em 5 minutos. 

Hospital: Sepaco. No pronto atendimento, por volta das 10h30, a médica fez o toque e constatou que estava com 1 dedo de dilatação e que iria demorar bastante ainda. Mas devido a bolsa rota internaria. O resultado do streptococo sairia no dia seguinte, então passei um tempo tomando a antibiotico no pronto atendimento e fazendo o cardiotoco até subir para o pré parto. 

Quando subiram comigo tive que esperar um tempo no corredor com outros pacientes que iriam para cirurgia, até me levarem para o pré parto de fato. No pré parto, nenhuma enfermeira se apresentava ou falava comigo, e as dores ficaram muito intensas e com intervalos menores, eu só pedia para chamar meu marido e elas falavam que já chamariam, que como eu queria parto normal ainda iria demorar e me trariam almoço.

Mas comecei a gritar que as dores estavam fortes demais e não havia mais intervalo entre as contrações, fora uma vontade de ir no banheiro começando - eu sei o que isso significa! Aí uma delas veio me falar que eu só estava com 1 dedo de dilatação, que ia demorar e se eu não estivesse aguentando 1 dedo que eu deveria pensar na cesariana, mas que também não era assim querer ir pra cesariana e já ir, que existia uma fila, que se eu escolhesse teria que ir para a fila. "Então você precisa me falar agora o que você quer e sua médica passar o caso pra gente". Aí ela tentou fazer o toque e "não achou o colo porque estava muito longe" o que significaria que iria demorar para o parto acontecer. 

Finalmente buscam meu marido e eu já estava sem cérebro, pensando se isso é dor de 1 dedo, não vou dar conta, vou colocar meu nome na tal fila. Nesse momento minha equipe chega. Doula Thais e Obstetriz Camila, chegam com uma tranquilidade no rosto que me deixam mais tranquila. Explico tudo e a Camila pede para fazer o toque: 8 dedos de dilatação! Não 1, mas 8 dedos. Meu marido disse que minha voz até mudou, que eu ficava repetindo 8 dedos! 8 dedos! E eu achando que estava com 1! Então é possível. 
Enquanto a doula e meu marido faziam massagem e me confortavam, a obstetriz já foi arrumar a sala de parto. 

A Dra. Fernanda estava em um parto e não chegaria a tempo, então pediram para o Dr. Alberto nos encontrar. Em menos de 1 hora, toque novamente: dilatação completa! Fico chocada de como evoluiu rápido e já não escuto, não vejo, não raciocinava nada do que me perguntavam. A equipe da neo me perguntava como eu gostaria de receber o bebe/banho/berçário, mas não conseguia responder. Graças a uma equipe sintonizada que eu nem conheci antes, elas puderam responder exatamente o que eu queria. Sempre achei que eu fosse parir na banqueta, mas nesse momento nem lembrava que ela existia. Como minhas contrações doíam diretamente na coxa/perna, elas trouxeram a banqueta. Nossa, era o que eu queria. 

Dr. Alberto chega e era como se nos conhecêssemos há anos. Agia com tanta naturalidade com o que estava acontecendo que me encheu de segurança. A obstetriz fala pra ele "tá tudo tão fisiológico", o que me enche de coragem, vai dar!
Expulsivo. Dor, força que vem do corpo todo e você concentra na vagina. Lembro de respirar colocando "o ar na barriga" para facilitar a descida. Deu certo. Começa a aparecer a cabecinha do bebe: "é esse o círculo de fogo?" "esse mesmo!". Arde, queima, sei que está quase lá. Mais duas forças no momento da contração e acontece a magia. 14h30 chega o Henrique. 

Me emociona de lembrar, quanto do instinto brota nesse momento, quanto do inconsciente, do animal, eu não entendia porque não conseguia responder as pessoas, mas sabia que estava num mundo paralelo, e só eu estava nesse mundo. Não teve treino, preparação, teve o momento. E proteção da equipe, para que não me despertassem desse momento. 

Meu marido chorava de soluçar, cortou o cordão após parar de pulsar, abraçava, pegava o bebê. E eu ainda em Narnia. Tantos sentimentos juntos, um parto é uma explosão. 

Ouvi a neo dizer que o levariam para o berçário (não lembro fazer o que) e que depois o levariam para o quarto, protocolo do hospital. Então o Dr. Alberto tranquilamente diz que ele nasceu tão bem, que deixassem que ele fosse comigo e fizessem todos os procedimentos no quarto comigo. Assim foi feito.

Minha avó fala que quem tem bom parto, parideira, é "bichona", de bicho mesmo, de vaca, de égua, dos animais do interior onde foi criada.
E se eu tivesse continuado com a primeira obstetra que colocava pânico por qualquer motivo? E se eu tivesse ido pra fila da cesariana no desespero? Se não tivesse uma equipe pra chegar na hora certa e me lembrar que estava tudo dentro do fisiológico? Eu nunca saberia que sou uma bichona. 

Pra mim, desejo + conhecimento são a chave pra essa conexão profunda consigo mesma, encontro com a mulher-loba, pra esse mergulho irracional e tão poderoso.

www.partosemmedo.com.br
Equipe: Parto sem Medo
Obstetra: Dr. Alberto 
Obstetriz: Camila
Doula: Thais
Obstetra do pré natal: Dra. Fernanda
Muita gratidão.



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